LUNES
ANDRE,
Suerte y ¡ANIMO! para hoy.Ojala encontramos otra vez.
Un abrazo “super” fuerte
KarenBilhete encontrado no meu iogurte, pela manhã
Dia Onze
Meu alarme não tocou. Acordei às 7h, nem ouvi o francês sair do quarto. Arrumei minhas coisas, tirei a linha do dedinho, fechei com um curativo e desci para tomar café. Na geladeira, ao pegar o iogurte que compramos para el desayuno, vi o bilhete de Karen e percebi porque havia me sentido daquele jeito ontem, no boa-noite.
Saí às 8h10, me despedindo do maravilhoso albergue de Azofra em direção a Santo Domingo de la Calzada. Um dia perfeito para caminhar! Nublado, com vento um pouco frio (foto que abre esta publicação). Meus pés pareciam outros, de tão bons, e em menos de uma hora e meia de subidas e descidas eu chegava em Cirueña, a 8 km do meu ponto de partida.
Cirueña é praticamente um campo de golfe, com uns 5 quarteirões em construção para um grande resort de férias e fim de semana. Parei um pouco para enrolar o dedinho do pé esquerdo, que começava a doer, e ouvi um familiar “aonde fica essa porra?”. Brasileiros! Luiz, de São Paulo, Lisbôa, de Santos, e Marcos, de Botucatu. Os 3 se conheceram no caminho e têm andado juntos desde então. É bom conversar em português de vez em quando. Eu cheguei a passar pelo Lisbôa em uma subida, e ofereci água para ele em inglês, hehehe, eu estava me comunicando há tanto tempo em inglês que nem percebi. Durante nossa conversa, Marcos disse que no check-in, em São Paulo, sua mala pesou 9 kg. A moça perguntou se ele faria o Caminho, e ele perguntou se sua mochila estava muito pesada. Daí ela respondeu que, uns dois dias antes, um louco estava levando 17,5 kg para a mesma viagem… hehehe! Fiquei famoso! Rimos muito. Seguimos juntos até Santo Domingo, onde eles iriam dormir, pois estavam andando desde Nájera.
Santo Domingo de la Calzada é uma cidade muito bonita! Aproveitei para passear um pouco e resolver algumas coisas, como trocar um traveller check no banco – para prevenir –, descarregar o SD da câmera digital, comer o típico pastel de Santo Domingo – um tipo de massa folhada em formato de vieira, a concha símbolo do Caminho, com um peregrino de massa em cima, recheada com um creme de maçã e nozes, deliciosa! –, e visitar a famosa Catedral, que é fabulosa. Pena que não era permitido fotografar no interior. Em uma das alas existe mesmo um galo vivo em uma gaiola, para preservar a lenda, e ele não cantou para mim… 🙁
Saí de Santo Domingo às 13h30 em direção a Grañon, destino do dia. Uma corridinha de 6 km, com o mesmo tempo ameno da manhã. MAS, é claro, o meu pé tinha que se manifestar: a parte de fora do tornozelo direito resolveu doer. Afrouxei a papete e segui um pouco mais devagar. É, eu passeei muito em Santo Domingo com a mochila nas costas…
Cheguei sofrendo em Grañon às 15h30. Ao ver uma antiga igreja, entrei, ajoelhei na frente do altar e rezei um Pai Nosso agradecendo ter conseguido chegar ali, andando – essa é uma prática que adotei desde o início: a cada igreja encontrada, um Pai Nosso ajoelhado em agradecimento por aguentar as dores nos pés –. O albergue era dentro dessa igreja, com entrada de pedra, escadarias escuras e frias e um extenso galpão com colchonetes dispostos ao chão. Muito legal, mas para mim parecia que alguma peça estava desencaixada. Ali era perfeito, mas parecia que não era para eu ficar ali, não sei explicar direito…
Larguei a mochila num colchonete, coloquei os chinelos e fui mancando atrás de una caña (é como chamam o chopp daqui) bem gelada no bar e também carimbar a Credencial. Fiquei conversando com Tim, um americano, quando apareceu Robert, que não via desde Ayegui, e Karin, uma alemã que eu ainda não conhecia. Eles continuariam até a próxima cidade. Eu estava sentado na frente do bar quando vi chegar Rarder, Mira e Rasmus. Eles disseram que seguiriam até a próxima cidade, e me deu um estalo: me convidei para acompanhá-los. Subi até o galpão, peguei minhas coisas e voltei ao bar, onde tomamos mais uma cerveja para eles descansarem. Foi quando descobri na mesa do lado mais dois brasileiros: Fábio, de Vinhedo, e Leonardo, que, por coincidência, mora a duas quadras da minha casa e nunca havíamos nos visto. Trocamos telefones, conversamos um pouco, e perguntei se haviam visto o Marcelo (que eu não via desde Viana), que devia estar umas duas cidades talvez para trás, mas eles não sabiam quem era.
Saímos às 18h em direção a Redecilla del Camino, eu, Mira e Rarder. Deu um estalo em Rasmus e ele resolveu ficar em Grañon. Isso é bem comum por aqui. Às vezes, você está super disposto a continuar, mas uma cidade te segura por algum motivo; outras vezes, você está cansado e com os pés doendo, mas não tem Cristo que te segure ali. Fui mancando, mas era exatamente o que estava faltando quando senti aquele “algo estranho” no perfeito albergue de Grañon. Quem sabe não durmo ali numa próxima vez…
Chegamos em 40 minutos em Redecilla del Camino, e encontramos Karen e Ann no albergue. Tudo nele é à base de donativos. Tomei um banho e fomos comer. O menu do peregrino foi maravilhoso: sopa castellana, que vai pão, pimentão, chorizo, ovo e alho, muito boa!, e depois, tortilla de atum. A tortilla espanhola é um tipo de omelete, e é muito comum aqui comê-la a qualquer hora do dia. Eu e Mira fomos ao bar tomar uma cerveja. Ele ficou vendo TV, eu completei o meu diário e Rarder resolveu lavar roupa. Às 22h fui dormir, bem cansado.
Redecilla del Camino é a primeira cidade da Província de Burgos, que faz parte da Comunidad Autónoma de Castilla y León. A minha passagem por La Rioja foi bem rápida, três dias apenas, e tenho umas palavras sobre isso: sinto saudades da Navarra. 🙂
1 Comment