Foto da família, para a posteridade. Da esquerda para a direita: Pipa, eu, Marta B., Erin, Domenico, Peter, Gemma, Marta A. e Javi. Faltaram Dani, Karin, Dario e muitos, muitos outros, mas não importa onde cada um estiver, no planeta: essa sensação de estarmos juntos e felizes nunca cessará.
Day Off
Choro: dia dois. Dia de encontros. Dia de reencontros. Dia de despedidas.
Já ao acordar nos despedimos de Dani, que pegaria um avião de volta pra casa. Como Domenico voltará amanhã para a Itália, passará o dia em Finisterre e voltará à noite para ficar com a gente mais um pouco. Arrumei minhas coisas e saí com Peter: ele, em direção ao albergue, e eu, à Catedral para ver a Missa dos Peregrinos, que começaria às 12h.
Durante a missa, ao ouvir que, no dia anterior, chegara em Santiago de Compostela um brasileiro que partira de Saint Jean Pied de Port foi muito emocionante para mim, afinal era eu! A Catedral de Santiago de Compostela é gigantescamente absurda. Uma maravilha ornada de mármore, madeira e ouro. E esperança. E uma energia fantástica. E o botafumeiro é a coisa mais hipnótica e maviosa do mundo. Ver um turíbulo de 1 metro e meio balançando como um pêndulo por toda a Catedral, do chão ao teto, é inenarrável. Por motivos meus, que não tenho a mínima certeza do porquê, não fotografei o interior da Catedral. Deixei isto para os turistas, que eram muitos, por sinal.
Saí da Catedral a caminho do albergue que nos acolheria hoje, e atravessei a avenida que levava à rodoviária. Ali, em uma parte da calçada, estava imortalizada a minha cena abraçando Leen, para quem conseguisse ver. Encontrei Erin no albergue, e ela disse que Dani não tinha dinheiro suficiente para transportar Pipa no avião, por isso ficaria responsável pela cadelinha. Ela me abraçou e começou a chorar muito, então ficamos por alguns minutos nos consolando das despedidas de hoje e de todas as outras que ainda estavam para acontecer. Nos arrumamos e saímos em direção à Oficina dos Peregrinos, para encontrar com toda a turma para um passeio.
Por lá reencontrei Rien, o sorridente holandês que eu via desde Saint Jean Pied de Port, e se despediu de mim com lágrimas nos olhos. Robert, que trançou as pulseirinhas do Fellowship of the Camino em Villafranca Montes de Oca, acabara de voltar de Finisterre com um brilho diferente nos olhos e uma barba mais densa. Norma, do Rio de Janeiro, não parava de chorar ao se despedir de todos. Nick e sua namorada, que eu via desde Roncesvalles, me deram boa sorte para a viagem do dia seguinte. Marta B. voltará amanhã para Zaragoza. Karin terá que ir de ônibus à Finisterre, pois levou uma picada que parece ser de aranha na perna, e está muito inchada com uma infecção. Muitos peregrinos que infelizmente não lembro os nomes, revi e me despedi. Muitos outros, que eu também gostaria de reencontrar, deixei apenas em pensamento os meus abraços.
Depois de comer decidimos esperar Domenico na rodoviária. Ele ficou muito feliz com a nossa festa quando desceu do ônibus, e seu rosto estava com uma expressão de alívio e serenidade invejáveis: Finisterre fez muito bem a ele. Paramos em um bar ao lado do nosso albergue para cumprirmos a nossa condição de baregrinos, todos juntos por uma última vez, e registramos o encontro em uma linda foto de família (a que abre esta publicação).
Por lá conhecemos Maurício, do Rio Grande do Sul, que mora há 14 anos em Portugal. Ele fez o Caminho de bicicleta, de forma bem diferente dos ciclistas normais. Ele não pegou nenhuma estrada, seguiu todas as flechas amarelas como os peregrinos a pé, e recolheu lixo. Isso mesmo: de Saint Jean Pied de Port até Portomarín ele juntou 80 (oi-ten-ta) sacos de lixo. Latas, PETs, embalagens de qualquer espécie, bitucas e caixinhas de cigarro, papel higiênico e outros podres. Virou lenda no Caminho, e fez algo que todos deveriam fazer. E deu exemplo. E ganhou os parabéns de todos nós.
Comemos alguma coisa por ali mesmo e fomos dormir, pois estávamos muito cansados. É, cansa muito chorar de hora em hora no mesmo dia, e amanhã teríamos muito mais choradeira pela frente…
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