CHANT DES PÈLERIN DE COMPOSTELLE
Tous les matins nous prenons le chemin,/ Tous les matins nous allons plus loin
Jour après jour, la route nous appelle,/ C’est la voix de CompostelleCHORUS/ BIS: Ultreïa, ultreïa, E sus eia/ Deus, adjuva nos!
Chemin de terre et chemin de Foi,/ Voie millénaire de l’Europe,
La voie lactée de Charlemagne,/ C’est le chemin de tous mes jacquets.CHORUS/ BIS: Ultreïa, ultreïa, E sus eia/ Deus, adjuva nos!
Et tout là-bas au bout du continent,/ Messire Jacques nous attend
Depuis toujours son sourire fixe/ Le soleil qui meurt en Finistère.CHORUS/ BIS: Ultreïa, ultreïa, E sus eia/ Deus, adjuva nos!
Canção ouvida no fim da missa em Bercianos del Real Camino
Dia Vinte
Tomei um café com leite com Robert, Gemma e um cara que descobrimos que estava desistindo do Caminho por causa do pé. Não adiantou conversar, nem mesmo falar da minha vivência como quase desistente: ele, infelizmente, estava rodeado de desconhecidos. Se eu só tivesse encontrado desconhecidos em Villafranca Montes de Oca (30/05/06), não sei se eu estaria hoje nesse albergue tentando ajudar alguém a não desistir…
Saí com Robert do albergue de Terradillos de los Templarios, mas em poucos minutos ele já estava longe. Pela manhã, com os pés frios, caminho num ritmo bem lento e os outros me passam fácil. E hoje, para ajudar, eu estava mancando do pé direito. Ao longo do dia caminho melhor, e vou até onde meus pés gritem para que eu pare…
Chegando em Moratinos, Gemma me alcançou. No meio da rua tinha um lugar com mesas, cadeiras, uma garrafa térmica e diversos tipos de chás à disposição dos peregrinos. Infelizmente a garrafa estava vazia, então só fizemos fotos (a que abre esta publicação e abaixo) e seguimos viagem.
Em San Nicolás del Real Camino, paramos para tomar um chocolate e comer alguma coisa. Ali nos despedimos da Província de Palencia, pois a partir dali entraremos na Província de León.
Paramos em Sahagún para conhecer a cidade, que é realmente muito bonita. Vale a pena passear por ela. Entramos na Iglesia de San Lorenzo e vimos no museu esculturas de madeira em tamanho real e cabelos naturais, representando a Via Sacra. As esculturas de Jesus têm juntas nos braços, para poderem pendurar na cruz e depois carregá-lo com os braços abaixados. É sempre incrível estar perto de algo que foi esculpido bem antes do descobrimento do Brasil (ok, estamos no Velho Mundo, mas mesmo assim acabo todo dia tendo esse pensamento sobre a nossa tão recente história). Pena que não podia fotografar. Paramos em uma praça enorme para almoçar e ficamos uma hora por lá, para descansar um pouco.
A meta do dia está 11 km à frente, embaixo do causticante sol das 13h. Eu e Gemma andamos o mais rápido que podíamos para chegar logo e descansar. Assim que avistamos Bercianos, lá ao longe, comecei a pensar na vida, e fui tão longe que tropecei numa pedra. Ao tentar me equilibrar, tropecei no cajado e o peso da mochila me empurrou para a frente. Para a minha cara não enterrar nas pedras, consegui me virar e cair de costas em cima da mochila. Nenhum arranhão, mas se eu estivesse vendo isso riria muito com a cena – Gemma ficou de olhos arregalados, mas riu quando me viu rindo. Caí pela primeira vez na minha “via sacra”, e por sorte não aconteceu nada. Respirei, me soltei da mochila para levantar e voltei a andar prestando muita atenção no chão, dessa vez.
Chegamos em Bercianos del Real Camino e andamos mais 1 km até o albergue municipal, que estava quase no fim do pueblo. É o albergue mais rústico, até agora: por fora pedras e por dentro, um tipo de pau-a-pique. No piso de baixo, pedra, no piso de cima, madeira. Cama confortável, ducha quente, tudo perfeito! Tomei um belo banho e fui tratar da minha pobre virilha e parte interna da coxa, que resolveram assar e coçar. Comprei uma pomada própria em Sahagún, vamos ver. Bom, isso é melhor que as bolhas nos pés, que por causa da papete são nulas. O que ferra são os tornozelos… Vou fazer um teste: vou encher minhas botas de jornal por uns três dias e ver se elas alargam novamente. Deram essa dica outro dia e eu havia esquecido. A papete está acabando com os meus pés. A palmilha da bota não entra nela, então piso em uma sola muito dura. Preciso dar um jeito nisso, também…
Na área comum do albergue havia o cronograma da noite: Às 19h, missa na capela, às 20h, o jantar, e às 21h30, o que o hospitaleiro chama de “o pôr do sol mais lindo do Caminho de Santiago“. Para passar o tempo, fiquei conversando com António, um venezuelano que conheci com Lisbôa, Luiz e Marcos no albergue de Burgos. Depois Gemma me apresentou a dois amigos espanhóis que eu ainda não conhecia: Dani, um catalão, e Inez, da Cantábria.
A missa foi celebrada em francês, por um padre que eu não sabia que era padre, que eu avistava pelo Caminho há uns 15 dias (ele estava dentro do grupo de pessoas que você cumprimenta, está sempre próximo delas de alguma forma e nunca teve oportunidade de conversar). Foi interessante e diferente descobrir em qual parte da missa ele estava. No final, ele e outros franceses cantaram a música que deixei lá no início desta publicação.
Ao sair da capela, encontrei Norma, uma carioca que eu havia conhecido em um bar em Boadilla del Camino. Ela ficou 4 dias em Castrojeriz por causa de uma tendinite, e estava recomeçando naquele dia. Para não voltar a ter problemas, ela tem atravessado algumas distâncias de ônibus. Hoje ela desceu em Calzada del Coto e andou 7 km até aqui.
Depois do jantar coletivo, os peregrinos e hospitaleiros do albergue (mais ou menos 25 pessoas), fomos todos para fora para ver “o pôr do sol mais lindo do Caminho de Santiago“. Todos estavam em silêncio. Apenas Milan tocava músicas aparentemente medievais no violão e cantava numa língua ininteligível, enquanto um balé de pássaros completava o espetáculo. Muito, muito bonito. Depois disso fomos dormir, pois os hospitaleiros trancariam o albergue.
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