Polvo, barro, sol y lluvia/ Es Camino de Santiago.
Millares de peregrinos,/ Y más de un millar de años.Peregrino. ¿Quién te llama?/ ¿Qué fuerza oculta te atrae?
Ni el Campo de las Estrellas/ Ni las grandes catedrales.No es la bravura navarra,/ Ni el vino de los riojanos,
Ni los mariscos gallegos,/ Ni los campos castellanos.Peregrino. ¿Quién te llama?/ ¿Qué fuerza oculta te atrae?
Ni las gentes del Camino,/ Ni las costumbres rurales.No es la historia y la cultura,/ Ni el gallo de la Calzada,
Ni el palacio de Gaudí,/ Ni el castillo Ponferrada.Todo lo veo al pasar/ Y es un gozo verlo todo,
Mas la voz que a mí me llama/ La siento mucho más hondo.La fuerza que a mí me empuja,/ La fuerza que a mí me atrae
No sé explicarla ni yo./ ¡Sólo El de Arriba lo sabe!Poesia de Don Eugenio Garibay B.
encontrada em um muro em Nájera
Dia Dez
Acordamos de mal humor.
Era impossível dormir de lado por causa do degrau que batia na minha coxa, então precisei dormir de barriga para cima. Como ainda estava um pouco acima do meu peso, claro que eu ia roncar. Isso acordava Karen, que me sacudia. A noite toda. Katrin saiu na frente, pois sabia que a encontraríamos pelo caminho (ela tem sono pesado, então dormiu bem). Arrumamos nossas coisas em silêncio e tomamos um café com leite no bar. Depois andamos em silêncio. Nas saídas das cidades, temos placas com um risco mostrando onde elas realmente terminam. A foto abaixo é de uma delas, e a legenda explica melhor como a placa de Navarrete foi lida por nós.

Em Nájera, encontramos Katrin deitada no gramado de uma praça. Eu e Karen já havíamos feito a pazes, e demos toda atenção a Katrin, pois nos despediríamos dela ali: ela vai para Bilbao encontrar com sua mãe e andar o Caminho uns 10 dias com ela. Assim, ficará impossível de nos encontrar novamente. Trocamos e-mails, fotos, choros, selinhos e continuamos a estrada. Essa região parece um pouco um deserto de filmes de faroeste americanos, e Nájera pareceria uma cidade desses filmes se tivesse construções de madeira em vez de prédios (foto que abre esta publicação).

Pegamos um sol absurdo até Azofra. Chegamos em estado deplorável. Resumimos esse trajeto em uma palavra: superação. No centro do pueblo havia uma fonte com quatro bocas de água fresca, jorrando ininterruptamente, e quase mergulhamos nela. Encontramos Ann, umas das alemãs que estavam ontem com a gente, que havia decidido continuar mais 16 km naquele sol absurdo até Santo Domingo de la Calzada (cada louco com suas escolhas, não?).
Fomos à procura do albergue, e encontramos uma estação do Paraíso. Depois de um dia sem banho, até uma “boca de porco” seria o Éden, mas fomos premiados. Quartos com apenas duas camas, três duchas e três privadas! Normalmente existe apenas uma ducha e uma privada, hehehe.
Tomei o melhor banho da minha vida, lavei minhas roupas e encontrei Karen na cozinha preparando uma sopa instantânea que estava lá à disposição dos peregrinos. Preparei uma para mim e coloquei dois dentes de alho fatiado que havia sobrado de Viana, para dar uma reforçada nas energias. Depois saímos para comprar nosso jantar: omelete! Ovos, cebola, queijo, milho, alho e mexilhões. Enquanto eu batia os ovos, Karen preparava os outros ingredientes. Um banquete reforçado!
Enquanto fumávamos um cigarro, nos preparando para dormir mais cedo, Karen chamou atenção para o meu dedinho do pé direito. Não existia dedo, e sim uma bolha com unha. Tentei fotografar, mas não consegui nada com foco. É, chegou a hora de tratar a minha primeira bolha do Caminho de Santiago. Como o francês que dividia o quarto comigo já dormia, precisei sentar no corredor para fazer o serviço. Limpei a área com a tintura de Guaçatonga que minha mãe havia preparado e comecei a furar a pele rente à carne, com bastante cuidado para não furar nada mais que a pele da bolha, até atravessar do outro lado. Deixei a linha de algodão ali para drenar o líquido, fechei com gaze embebida em Guaçatonga (era a única coisa com álcool que eu tinha para limpar) e fui dormir. Foi bem engraçado a torcida: umas senhoras francesas ficaram assistindo a minha “operação”, hehehe.
Me despedi de Karen com uma sensação de que não nos veríamos mais. Ela deu boa noite e falou para eu não esquecer de pegar pela manhã um dos iogurtes que compramos na geladeira, para o café. Antes de subir para dormir, “salvei” um sérvio que pediu que eu traduzisse uma mensagem de texto para ele enviar a uns amigos espanhóis. Ele queria encontrá-los no dia seguinte. Foi bem divertido fazer isso, e sorte que a hospitaleira ajudou também com a gramática. Muitas risadas, e depois, cama.
3 Comments