Dia Trinta e Um
Acordamos tarde e paramos em um bar próximo ao albergue de Samos para tomar um café e terminar de organizar as mochilas. Foi ali que descobri que leite de soja, depois de três dias aberto fora da geladeira, fica com gosto de feijão cru azedo (é, eu fazia esses testes arriscados, mas consegui sobreviver a todos eles, hehehe – agora sei que uma lata de patê de fígado de porco dura 3 dias fora da geladeira, e leite de soja, apenas 2). Aproveitei também para cuidar de mais umas três bolhas nos dedos de Leen, enquanto Domenico fazia o mesmo nos pés de Kate.

Chegamos em Sarria durante a siesta, e ficamos por lá até o comércio abrir novamente. Eu, Domenico e Dario dividimos uma porção de pulpo gallego, uma pizza e cervezas. Às 16h as lojas abriram, e Leen e Kate se separaram do grupo para resolver o problema da grana. Os outros seguiram na frente, e eu e Domenico fomos atrás de uma farmácia. Somos conhecidos como los lentejas (é um trocadilho: lenteja significa lentilha, mais serve também para nos chamar de lentos). Domenico diz que não tem carimbado sua credencial nos albergues: só pega os carimbos das farmácias. Ele é o hipocondríaco da turma.
Chegamos em Barbadelo e encontramos os outros deitados na grama de uma praça. O albergue estava cheio, e teríamos que dormir ao relento. Sentamos para beber num trailer, e o dono bateu um papo com a hospitaleira, que ofereceu a sala do albergue para dormirmos.

Quando eu descia a rua para levar minhas coisas ao albergue, ouvi meu nome partindo de uma voz ao longe conhecida, mas bem antiga. Da única cabine telefônica do pueblo, avistei Katrin, a alemã que se separou de mim e Karen em Nájera há 20 décadas (28/05/06)! Ela largou o telefone (era uma ligação a cobrar para a Alemanha) e subiu a rua correndo pra me abraçar. Os reencontros no Caminho de Santiago são muito doidos e inesperados, mesmo. Ela pulou de um jeito no meu colo que quase caímos ao chão com mochila e tudo. É incrível como parecia que não nos víamos realmente há décadas. Ela me disse que andara com sua mãe por uns 10 dias, e que depois seguiu com uma nova turma. Marcelo também estava com ela. Ela descobriu que Robert chegaria amanhã em Santiago – rápido pra cacete, comparado ao nosso ritmo.
Durante o jantar reencontrei Marcelo, e conversamos sobre reencontros e desencontros, sobre um pouco de tudo e todos que havíamos conhecido, dos que tínhamos notícias e dos que não fazíamos ideia do paradeiro. Eles não sabiam nada também de Karen e Rasmus…
Demoramos quase uma hora para conseguir pegar no sono. Não parávamos de rir. Éramos oito (Javi, Karin, Domenico, Peter, Marta B., Marta A., eu e Dario) dormindo numa sala apertada, sem condições de virar para o lado ou achar uma posição decente para colocar o braço. Dario pegou um instrumento peculiar de sua mochila e começou a tocar para relaxarmos. Não adiantou muito, pois continuamos a rir por mais 40 minutos. Dormimos mal pra caralho, mas foi uma experiência muito divertida.
1 Comment