Dia Vinte e Cinco
Me despedi de Lucas, pois sua jornada era mais longa que a minha, e organizei minha mochila para ver o que eu ia mandar dessa vez para Santiago de Compostela pelo correio. Como os correios só abririam às 09h, tive muito tempo. Dessa vez vão quase 2 kg: o livro dos vitrais da Catedral de León, uns papéis, um dos canivetes e algumas pedras que eu peguei nas estradas da Palencia. Depois disso, fui ao banco trocar traveller cheques, finalmente comprei calcanheiras de silicone para a papete – dica de uns baianos que conheci no albergue municipal de León –, e comprei também um moletom novo para substituir o que eu larguei em algum bar de León. Minha lembrança de Astorga: um moletom escrito Minnesota University, hehehe. 😀
Visitei o Palácio Episcopal de Astorga, projetado por Gaudí, e me preocupei mais com a arquitetura do que com as obras de arte. Gaudí é realmente um gênio, e esse passeio foi um ótimo aperitivo do que poderei ver em Barcelona, depois que acabar a minha peregrinação. Mínimos detalhes fabulosos, grandes detalhes fantásticos! Suas construções parecem que têm vida própria.
Deixei Astorga às 12h, um pouco atrasado, mas chegaria a tempo de ver o jogo do Brasil, que será às 21h. [NOTA] Durante o meu Caminho de Santiago, em 2006, acontecia a Copa do Mundo na Alemanha. Não havia mencionado ainda porque estava esperando a estreia do Brasil para comentar. A maioria das pessoas, ao descobrir que eu era brasileiro, comentava da Copa e dizia que o Brasil era favorito, o time era ótimo, essas coisas, mas eu não estava com tantas esperanças. 🙂
Chuva, dia dois. As calcanheiras estão ajudando bastante, mas ainda assim preciso parar de pueblo em pueblo para descansar um pouco os pés, pois a dor persiste.
Cheguei a Rabanal del Camino às 18h30, com folga pra admirar o albergue, tomar uma bela ducha, comer e me preparar psicologicamente para o meu primeiro jogo de Copa do Mundo longe do Brasil. Praticamente todos que estavam no albergue foram ao bar ver o jogo. De conhecidos, haviam Colin e Selena, Leen, Karin, e também Robèrt e o japonês que conheci em San Martín del Camino.
Saquei a minha bandeira da sorte e todos tiraram fotos minhas com ela. Eu era o ÚNICO brasileiro naquele bar. É muito estranho. Quase no final do primeiro tempo o Brasil fez um gol em cima da Croácia, daí levantei e gritei e pulei como se estivesse no estádio… Todos ficaram parados, olhando para mim como se eu tivesse tirado toda a roupa em cima da mesa. Olhei à minha volta e gritei Êêêêê, porra! Eles levantaram os braços e responderam êêêêê! rindo. Alguma reação de comemoração, finalmente. 😀
Já passava das 22h e o albergue fecharia às 22h30. Algumas pessoas começaram a sair, pois não queriam ficar para fora, e eu disse que dormiria no bar se isso acontecesse. Logo depois, todos voltaram junto com a hospitaleira, que foi gente boa e viu o final do jogo conosco, pois só fecharia as portas quando ele acabasse. O Brasil ganhou o primeiro jogo, e fui dormir feliz.
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