Dia Dezenove
Eu e Gemma saímos bem cedo do albergue de Carrión de los Condes e tomamos café na praça para resistir ao primeiro desafio do dia: 17 km sem sem fonte ou pueblo, debaixo de um sol massacrante. Como meus pés doíam, Gemma acelerou o passo e acabei ficando para trás. Uns minutos depois encontrei Ali (foto que abre esta publicação) e seguimos conversando pelo “deserto”. Rachel também estava mais rápida e a esperaria em Calzadilla de la Cueza. Paramos para almoçar por volta das 10h30, porque o sol castigava e encontramos uma sombra maravilhosa, onde Gemma estava descansando.
Mais uma longa e cansativa caminhada, mas agora pelo menos a paisagem estava mais agradável, com árvores, e a reta interminável incomodaria muito se eu não tivesse companhia para conversar. Chegamos em Calzadilla de la Cueza e encontramos no bar Rachel, Robert, Karin e Gemma, já tomando umas cervejas geladas. Nos refrescamos também e voltamos a andar.
Outro trajeto sem sombra, com o sol fervendo. Me senti no Saara. Transpirava em bicas, de um jeito que daria para recarregar a minha garrafa se torcesse a camiseta.
Chegamos a Terradillos de los Templarios e eu, Ali e Rachel ficamos em um dos quartos triplos do albergue. Com as duas cordas elásticas que levei, improvisei um varal dentro do quarto para pendurarmos nossas roupas molhadas. A prioridade seguinte foi tomar cerveja! Ficamos conversando com Gemma, Rien, Robert, Karin, Peter – um alemão muito divertido –, Nick e Tim – um casal de americanos que eu via desde Roncesvalles –, e dois irlandeses loucos que estão fazendo o Caminho vestidos com grossas roupas de monges, para parecer peregrinos reais. Doidos de pedra! Com esse calor, se eu usasse aquilo seria suicídio.
Depois do banho fiquei umas duas horas na internet atualizando o blog. Parei no dia 27 ou 28, se a atualização funcionou antes do pau que deu no sinal. Ainda estou muito atrasado, mas é bem difícil encontrar lugares com internet disponível (estamos falando de 2006, pessoal, hoje deve dar para atualizar o blog até pelo plano de dados do smartphone…).
Como não tinha cozinha no albergue, peguei o menu do peregrino e sentei com os “monges” irlandeses e um cara que já havia encontrado ontem, de passagem. Seu nome era Shun, um japonês que começou a andar a partir de Burgos. Sem falar uma palavra em espanhol e com um inglês bem restrito, ele já sobrevive há 5 dias na Espanha. Ele tem 19 anos, está estudando na Europa e ganhou uns créditos para poder conhecer (não entendi direito se isso era possível, mas foi o que ele conseguiu dizer) outros países do continente. Visitou a Alemanha, República Tcheca e outros lugares, daí descobriu a existência do Caminho de Santiago e resolveu peregrinar. É o primeiro oriental que encontro por aqui.
Quando voltei ao terraço do albergue, Milan estava ensinando algumas canções da República Tcheca no violão para a galera, mas dei boa noite para deixar meus pés para cima e dormir mais cedo. Acabei conseguindo atualizar meu diário até hoje antes de ficar realmente sonado. Espero acordar com os pés em melhor estado, amanhã, pois o negócio anda bem doloroso…
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