Dia Seis
Comecei o trajeto do dia às 8h, depois de me despedir de Dean e passear por Puente la Reina seguindo as setas amarelas até a majestosa ponte que dá nome à cidade. Andei sozinho até próximo a Mañeru, onde encontrei Katrin, que mancava bastante por causa do pé bem machucado. Como eu não estava usando a tornozeleira que levei, deixei com ela, pois estava precisando mais. Um fato bem interessante disso é que eu sabia que Katrin estava na minha frente por causa das pegadas deixadas por ela nos trechos de terra. É, você acaba reconhecendo as pegadas dos amigos, é só lembrar do padrão de seus calçados (um exemplo disso é esta foto, que tirei entre Zubiri e Larrasoaña).
Antes de entrar na cidade de Mañeru, ao olhar para trás tive uma visão sensacional (imagem da esquerda): aquela montanha, ao fundo, é o Perdón, que eu atravessei ontem. É muito louca essa percepção de passagem. Somos caminhantes em constante movimento, apenas passando pelos lugares e deixando muitos quilômetros para trás.
Entre Lorca e Villatuerta, paramos para almoçar embaixo de uma frondosa árvore que oferecia sua sombra a um rebanho de carneiros (foto que abre esta publicação). Conseguimos um espaço ali e sentamos. Foi um banquete: juntamos o que tínhamos na “cozinha” da mochila e comemos um caprichado sanduíche com o vinho que havia sobrado da noite anterior.
Chegamos em Estella, o lugar de parada do dia, mas o albergue estava lotado. Tivemos que, cansados, andar até a próxima cidade, Ayegui, 1,5 km pra frente. O albergue de Ayegui é dentro de um ginásio de pelota basca, bem divertido, mais parece que foi improvisado de última hora, e os hospitaleiros te tratam como se você fizesse parte de um acampamento de verão, dando ordens às vezes até militares, hehehe. Descansamos um pouco e resolvemos jantar em Estella, claro! Eu, Marcelo, Katrin, Robert, Joan e Karen, uma inglesa muito maluca que eu já tinha visto algumas vezes, voltamos 1,5 km a pé para procurar um restaurante.
Estella é uma cidade muito bonita, uma pena não termos conseguido vaga no albergue de lá. Passeamos um pouco para apreciar as construções e encontramos um restaurante charmoso para cenar. Enquanto jantávamos, começamos a contar a percepção de cada um sobre o Caminho de Santiago. O relato de Karen foi o mais interessante: ela disse que não olha o agora, e sim através das coisas, como se o passado estivesse acontecendo exatamente agora. Concordei com ela em alguns aspectos, pois passado, presente e futuro estão acontecendo ao mesmo tempo, agora mesmo, em algum lugar no tempo-espaço. E no Caminho, isso fica muito claro. É bem difícil explicar, mas aqui tudo fica muito claro.
Ao voltar para o albergue – mais 1,5 km depois de tudo o que andamos passeando em Estella –, reencontramos Fabian, que ficaria mais um dia ali para visitar uma igreja que estava fora do trajeto do Caminho. Iria de ônibus para lá, deixando suas coisas no albergue, e retomaria a peregrinação somente no dia seguinte. Bom, mais uma despedida, e mais uma parceira de caminhada para trás…
As luzes se apagaram exatamente às 22h, então usei a lanterna para escrever no meu diário até aqui.
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