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22/05/06 – Arre até Cizur Menor

André Lasák maio 22, 2016 Há 10 anos

Un regalo de Brasil aos peregrinos que necesiten [sic]. André L. Longobardi 22/05/06

Recado que escrevi no saco de dormir que deixei em Arre

Dia Quatro

Manhã de desapego: deixei o meu “bom e velho” saco de dormir de presente no albergue de Arre para quem precisasse. Rabisquei um “portunhol maroto” na capa dele e me despedi de quase 2 kg na mochila. É, ele era bem pesado. 🙂

Eu e Daniel saímos um pouco tarde, 8h30, mas hoje é um dia de caminhada “curta”, então não precisa de pressa. Nos perdemos um pouco para achar as setas amarelas para Pamplona, mas acabamos conseguindo encontrar ao pedir informações para algumas pessoas. E é muito bom conversar com as pessoas da Navarra.

Ao atravessar a ponte de pedra da entrada antiga de Pamplona (foto acima), fiquei de boca aberta: apareceu uma gigantesca muralha de pedra que abriga a cidade gótica, o castelo e a Catedral. A entrada é uma ponte levadiça. Ao entrar na cidade, eu e David nos despedimos. Ele queria treinar seu espanhol e também acompanhar seu guia americano, que indicava a rua da frente para seguir, já eu queria (na verdade eu sentia que precisava) subir a rua lateral à muralha para ver de perto tudo o que observamos de baixo, na chegada. Então naquele momento eu percebi que perdia mais um parceiro de Caminho de Santiago. Eu estava por minha conta, novamente.

Claustro da Catedral de Pamplona
Claustro da Catedral de Pamplona

Quando terminei de subir a rua e observei o caminho por onde eu havia passado minutos antes, da perspectiva de quem estava no alto da muralha, senti algo muito estranho. Fui virando lentamente, em direção às torres do castelo e da Catedral, e de repente comecei a chorar que nem uma criança: não sei como explicar, mas eu havia voltado para casa. Cada pedaço daquilo era familiar. Fui chorando e seguindo a calçada em direção às torres, não conseguindo conter o choro. Em certo momento, vi que a calçada fazia uma abertura mais à frente, como se fosse o espaço de um jardim. Automaticamente “lembrei” que à direita havia uma estátua. Saí correndo e, quando virei, não havia estátua, mas sim o nicho dela na parede, vazio. Era impressionante. Eu não acreditava que algo assim poderia ser tão intenso, tão inexplicável… Depois de toda essa carga de emoção enquanto eu andava beirando todo o sopé da muralha, desci novamente para entrar na Catedral. A entrada era por uma porta lateral, que transformaram em museu. Ali, na porta, um grupo grande de turistas belgas me viu e todos pediram felizes para tirar fotos comigo, hehehe. Um peregrino! Eu me senti um santo… Eles agradeceram como se fosse impossível encontrar alguém como eu andando por ali, e um dos velhinhos me deu € 5,00 de agradecimento, hehehe, vale a pena ser peregrino.

Dentro da Catedral de Pamplona vieram lágrimas novamente quando entrei em uma galeria vazia. Na minha cabeça ali estava bem diferente de quando “a vi pela última vez”. Muito louco esse déjà vu em cadeia. Degustei cada pedra daquela Catedral e saí em direção à parte nova da cidade para procurar os Correos.

Um serviço bem interessante que os correios da Espanha oferecem é postar o que você quiser, em seu nome, para Santiago de Compostela. Assim você alivia o peso das costas e só pega de volta quando terminar a longa jornada. Gastei € 2,30 numa caixa de 3 kg e € 6,00 para enviar para Santiago quase a capacidade da caixa (NOTA: esses preços são de 2006). Agora minha mochila está bem melhor. Perguntei aonde eu encontraria um saco de dormir para vender e me indicaram o recém-inaugurado El Corte Inglés, uma gigantesca loja de departamentos. O andar térreo lembrava um free shop de aeroporto, cheio de marcas dos melhores perfumes do mundo, um luxo só. Claro que a minha indumentária – toda a tralha de peregrino e o meu cajado de dois metros – me transformaria em um E.T. em segundos: todos me olharam com estranheza. Isso é muito doido no Caminho, afinal, uma hora e pouco antes, eu estava sendo fotografado como uma celebridade, hehehe. Encontrei um saco de dormir de apenas 600 g e ri à toa. Minha mochila está bem mais leve agora.

Retomei a estrada e andei os 4 km mais rápidos da minha vida. Estou muito feliz com o peso da mochila. Cheguei em Cizur Menor e, no maravilhoso albergue, reencontrei Marcelo (o brasileiro de Porto Alegre que joga vôlei profissional na Europa), Fabian (a suíça que jantou ontem comigo), Joan (uma americana que eu já havia conversado em alguns momentos) e fiz novos amigos: 3 irlandeses, Sam, Tim e Tiago – que nasceu no Brasil e mudou-se quando criança para a Irlanda – e um inglês, Dean.

Albergue em Cizur Menor (da esq. para a dir.): Dean, Marcelo, Joan, Tiago, Sam & Tim
Albergue em Cizur Menor (da esq. para a dir.): Dean, Marcelo, Joan, Tiago, Sam & Tim

Eu e os irlandeses ficamos conversando até mais tarde e conseguimos acabar com a cerveja – Cerveza San Miguel, muito boa – da vending machine do albergue. Eles saíram para comprar mais e apareceram também com meia garrafa de vinho de presente pra mim, que terminamos de beber antes de dormir. Eles são muito divertidos e rimos muito trocando importantes informações culturais, como palavrões e piadas. Esta foi a minha noite mais fria na Europa, pois havia chovido um pouco. Como as nuvens estavam bem agitadas com o vento, suspeitei que amanhã não choveria durante o dia.

Post008 Quilometragem do dia

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André Lasák

Escritor-peregrino. Viciado na arte da letra. Na construção das palavras. Na musicalidade das frases. Na remissão dos pecados. Na vida eterna. Amém.

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